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A Câmara Velha foi o edifício dos Paços do Concelho, desde a sua construção, no reinado de D. Manuel (séc. XV/XVI), até 1956, ano em que se inauguraram as actuais instalações camarárias. Podemos compaginar a datação estilística do edifício com a pedra de armas manuelina e com a atribuição do foral em 1512.
É um dos mais importantes elementos da arquitetura civil da vila e, simultaneamente, o maior edifício antigo da mesma, o que, conjugado com a sua localização, atesta a sua importância política e administrativa através dos tempos. Com efeito, situa-se na confluência de três ruas (Rua de Cima, Rua das Portas da Vila e Rua do Relógio) que por sua vez procedem das três portas da cerca urbana medieval (respetivamente, Portas de Ródão, Portas da Vila e Postigo do Torrejão). A confluência constitui-se na praça, a do Pelourinho (também chamada praça da Vila), tendo ao centro este dispositivo de aplicação de justiça e símbolo do poder local, também ele manuelino.
Olhando para a frontaria do dito edifício, observamos que se lhe adossa a Torre do Relógio, também ela manuelina, a julgar pelo baixo-relevo esculpido em pedra e pela datação do seu sino maior. O interior da Torre do Relógio de Marvão deixa ver a escada de acesso ao topo, constituída por degraus toscos embutidos na parede.
É também pela Torre do Relógio que se acede às prisões do rés-do-chão da Câmara Velha, cujas janelas dão para a fachada principal. Os dois compartimentos são hoje uma Oficina/Loja de Artesanato e também uma Sala de Exposições (recriação de uma antiga sala de aula).
Pela porta situada na Travessa da Cadeia, entramos para o segundo e terceiro pisos do edifício. No pequeno hall de acesso, esteve instalada a antiga Cavalariça e, posteriormente, funcionou a Sala de Aferições. Neste pequeno espaço encontram-se em exposição: um conjunto de pesos e medidas, uma maquete da vila e as edições da Câmara Municipal de Marvão disponíveis para venda.
A antiga Sala da Guarda, situada no segundo andar, tem porta para a torrinha balconada que guarda o sino da Câmara e uma outra, de abertura recente, que a faz comunicar com o resto do edifício. Nela se pode observar o antigo e único acesso para as celas do rés-do-chão e também uma reprodução das inscrições murais das celas da antiga prisão. Atualmente é utilizada como Sala de Leitura do Arquivo Histórico Municipal.
No andar de cima, a Sala do Antigo Tribunal é encantadora e absolutamente singular, dada a conjugação entre a modéstia do espaço e a sobrevivência do forte mobiliário de castanho, pintado a azul e com recortes barrocos. O conjunto parece datável da segunda metade do séc. XVIII. Proeminente ergue-se a cadeira do juiz, e como nesta mesma sala trabalhou Mouzinho da Silveira como juiz de fora, um dos mais importantes políticos portugueses do séc. XIX, responsável pela obra legislativa que destruiu o Antigo Regime e instaurou o Regime Liberal, está patente uma exposição permanente sobre a sua vida e obra.
A Sala de Reuniões constituía o modesto Salão Nobre da Câmara Velha. O teto chama-nos logo a atenção, pela sua configuração em masseira e pelo antigo brasão do concelho que nele se encontra pintado, decorado com o título atribuído a Marvão por D. Maria II aquando das Guerras Liberais: “Mui nobre e sempre leal Vila de Marvão”. A sala tem ainda outra atração: a janela com a vista mais bonita de todo o edifício.
O espaço onde antes se localizava a antiga secretaria camarária, foi reabilitado para Auditório e dotada de equipamento audiovisual, sendo agora oferecido, tal como a Sala de Reuniões, para a realização dos mais variados eventos.
Todo este piso superior, bem como o seu rés-do-chão que dá para a Rua do Relógio, resultam de uma expansão dos primitivos passos manuelinos que podemos datar do ano de 1851.
Dada a enorme percentagem de espaço ocupado no edifício pelas prisões, a entrada para a câmara fazia-se pelo tardoz (Rua 24 de Janeiro). É interessante esta fachada, composta por dois planos, unidos pela cantaria fingida que os decora (constituindo uma obra de 1930).
A cantaria fingida encontra-se coroada por ameias de inspiração manuelina e por quatro torrinhas decoradas, respetivamente, da esquerda para a direita, pela Cruz de Malta, pela esfera armilar, pelo antigo brasão municipal e pela Cruz de Cristo.
A fachada da entrada da Câmara Velha apresenta, contudo, uma clara marca barroca na decoração da porta, atestada, temporalmente, por uma pequena lápide com a data inscrita de 1759.
O imóvel classificado e de propriedade camarária, serviu de arrecadação e arquivo, entre 1956 – quando perdeu a sua função primitiva – e 2002. O edifício foi restaurado e reabilitado para Casa da Cultura de Marvão e inaugurado a 24 de Janeiro de 2003.