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Tendo a Alfândega de Marvão funcionado na Torre da Portagem, por ali passavam, a cuidar da vida, gentes que de um e outro lado da fronteira teimavam em ultrapassar as barreiras administrativas e políticas impostas ao fio da espada que, contudo, nunca conseguiu cortar as ligações familiares ou de simples amizade e vizinhança.
Em 1492 os reis que a si próprios se designaram de Católicos, movidos por motivos de ordem religiosa e procurando a defesa do universalismo da religião cristã mas, também por motivos de ordem económica, expulsaram os judeus dos seus reinos só considerando a sua permanência através da conversão ao cristianismo. Foi um novo Êxodo para o povo de Israel!
É difícil avaliar o montante daqueles que atravessaram as fronteiras portuguesas considerando que algumas famílias ficaram dispensadas da capitação e outros, como os armeiros ou ferreiros beneficiaram de um direito de entrada mais baixo. Os números da fuga apontados pelos diferentes investigadores vão das 15.000 até às 400.000 pessoas. Sabemos, contudo que, só em Setembro de 1492, próximo de Castelo de Vide, se montou um acampamento de cerca de 5.000 pessoas guardadas dia e noite por soldados portugueses para evitar as incursões dos soldados castelhanos. Seria caso para dizer: um verdadeiro acampamento de refugiados perseguidos em nome da religião e da intolerância!
Alguns daqueles que entraram em Portugal passaram a fronteira na Alfândega de Marvão, contribuindo desta forma para o momentâneo crescimento dos cofres do Estado, posteriormente fragilizados pela assumpção de uma política de intolerância religiosa que caracterizou as coroas ibéricas. A partir de 1492 as comunas judaicas já existentes em Portugal viram crescer significativamente o número dos seus ocupantes. Foi este o caso da judiaria de Castelo de Vide cujo redimensionamento deve ter conduzido à necessidade de utilizar uma antiga casa de habitação como Sinagoga.
Carmen Ballesteros