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Foram, até ao momento, registados os seguintes monumentos megalíticos no concelho de Marvão:
Antas:
Castelhanas, Ribeiro do Lobo, Bola da Cera, Tapada do Castelo, Laje dos Frades, Enxeira dos Vidais, Granja, Meirinha, Tapada da Anta, Socha da Meirinha, Cavalinha, Vale da Figueira, Sapateira Grande, Sapateira Pequena, Pombais, Traboia, Ferrenha, Jardim, Atalaia, Matinho, Cabeçuda, Figueira Branca, Pereiro II, Pereiro I.
As faces mais visíveis e por isso mais conhecidas do Megalitismo são as antas e os menires. Mas, por detrás destas expressões arquitetónicas esconde-se um vasto e complexo mundo de mitos emergentes das sociedades que gradualmente se sedentarizavam. Parece, assim, razoável que se possa estabelecer uma relação direta entre as primeiras comunidades de agricultores e pastores com o despoletar do Megalitismo. Durante muito tempo aceitou-se que o Megalitismo se reduzia às grandes construções, ou monumentos obtidos por grandes pedras, daí a sua denominação ( do grego megas, grande e lithos, pedra ) e que nada mais eram do que espaços, ou marcos funerários. À medida que a investigação foi avançando começou-se a constatar que o megalitismo não se limita, exclusivamente, a rituais de tumulação e que paralelamente aos grandes monumentos outros conjuntos simbólicos e estruturas de muito menores dimensões, obtidas, ou não de pedra, igualmente faziam parte das expressões do Megalitismo. Simultaneamente, cada vez mais se reconhece que os mais pequenos pormenores dos aspetos mais visíveis do Megalitismo encerram em si toda uma profunda carga simbólica determinada por um mito, ou por um complexo mitológico, intimamente relacionado com a crescente consciência que o Homem tem da sua dependência face à natureza. Para ultrapassar, esta dependência e fragilidade, assumidas no coletivo, o homem do Neolítico criou, complexas expressões mentais, que ritualizadas, chegaram até nós através das, por norma truncadas, manifestações, a que apelidamos de megalíticas. Conhecemos, assim e tão só uma ínfima parcela de um oceano recheado de expressões simbólicas, arquitetadas por comunidades que procuraram encontrar através do diálogo entre o mundo real e o imaginário respostas para as suas angústias e expectativas, resultantes de uma crescente tentativa de domesticação do ambiente que as rodeavam. Condicionadas por esse mesmo ambiente e sobretudo pela maior, ou menor capacidade para a ele se adaptarem e dele tirarem o sustento, cada comunidade exprimiu de forma particular a ritualização das suas crenças, ao que tudo indica muito semelhantes, ou mesmo iguais, dentro do universo que os contactos culturais possibilitavam. Encontramos, desta forma, e dentro das mesmas balizas cronológicas diferentes expressões megalíticas. Embora obedecendo a um padrão simbólico comum, cada comunidade transfigurou o megalitismo, despejando-o, ou rebuscando-o de acordo com os recursos propiciados, mais pela sua economia, do que pela matéria-prima disponível. Espelha-se, igualmente, na maior, ou menor expressividade dos espaços cénico-rituais a proporcional capacidade de investimento em número horas – homem que cada comunidade conseguiu congregar para o mundo do simbólico. Não alheia a esta realidade deverá estar a relativa coesão social de cada grupo e a consequente capacidade de liderança. Fatores como a riqueza dos solos e dimensão e diversidade de recursos nos territórios de exploração, condicionaram o maior, ou menor número de excedentes das comunidades, que se vieram a projectar, da mesma forma, nos diferentes graus de sedentarização, condicionando, proporcionalmente, o investimento na ritualização dos seus mitos. Se esta realidade se espelha nas faces mais visíveis do megalitismo, ou seja na arquitetura funerária e nos menires, ela está, igualmente expressa no mobiliário votivo, na arte e nos múltiplos e complexos rituais da morte. A maior, ou menor volumetria dos espaços cénico-rituais é acompanhada pelo maior, ou menor número, diversidade e sobretudo riqueza das oferendas fúnebres, que refletem, obrigatoriamente o ambiente artefactual da comunidade que os sacrificou e do prestígio e influência dos tumulados. Partindo da relação entre o número de horas-homem necessário à construção dos sepulcros e o número de tumulados, facilmente se percebe que apenas uma pequena parcela da comunidade tinha direito à este tipo de sepulcro. Verifica-se que esta relação não é influenciada, quer por factores etários, quer por factores sexuais. Outras razões, que por agora desconhecemos poderão estar na origem da selecção dos que a este tipo de sepulcros tinham direito. Uma das hipóteses a considerar prende-se, naturalmente, com algum tipo de elite emergente destas sociedades, para quem os outros teriam obrigações, incluindo após a vida. É pois, neste contexto, que parece ter a sua máxima expressão durante o terceiro milénio antes de Cristo que devemos compreender as manifestações megalíticas que se conservam no espaço que actualmente conforma o concelho de Marvão. Mas a face visível do megalitismo deste concelho inscreve-se numa realidade muito mais ampla favorecida pelas potencialidades dos solos leves e bem drenados das meias encostas da Serra de S.Mamede, associados aos múltiplos recursos que o denso coberto vegetal das cotas mais elevadas proporcionavam. Um largo corredor envolvente da serra, coincidente com a mancha granítica, matéria-prima especialmente adaptável às grandes construções, que se parece iniciar nas terras mais aplanadas e arenosas do concelho de Nisa e se projecta além de Valência de Alcântara, já bastante para lá da actual fronteira política, encontra-se polvilhado de monumentos megalíticos com alguma coerência e uniformidade. Nesta meia encosta as terras são facilmente revolvíveis, abrem-se favoráveis áreas de pastorícia, a água encontra-se em abundância e as espécies cinegéticas são diversificadas, propiciando as condições necessárias à fixação de comunidades neolíticas e conferindo às manifestações megalíticas aspectos que as vão distinguir das que mais a norte, já beira Tejo se conhecem. Enquanto junto ao Tejo os construtores de megálitos desenvolveriam uma economia virada essencialmente para a pastorícia, na área do concelho de Marvão as comunidades aqui estabelecidas há cerca de cinco mil anos veriam os seus excedentes aumentar resultantes de uma economia predominantemente agrícola, mas fortemente reforçada pela pastorícia e por todos os recursos que uma serra, densamente arborizada, facultava. Sem atingir a monumentalidade dos sepulcros que noutras zonas mais ricas se conhecem, as manifestações arquitetónicas megalíticas identificadas no concelho de Marvão espelham, contudo, uma sociedade suficientemente organizada que podia disponibilizar proporcionais somas de horas-homem na ritualização das suas crenças. Numa área aproximada de 155 Km2, que forma o atual concelho de Marvão conhecem-se 24 antas e três menires. Implantados, preferencialmente, ao longo do Rio Sever e junto aos terrenos mais limpos de afloramentos graníticos, estes monumentos assinalam, claramente, os espaços eleitos pelas comunidades neolíticas que se estabeleceram no território do atual concelho de Marvão.
Remonta ao século XVII, mais propriamente a 1693 a mais antiga referência conhecida sobre as antas de Marvão. Trata-se de um manuscrito que se encontrava incluído num maço de documentos de doações à Misericórdia de Marvão, hoje desaparecido. Num desses documentos encontrámos a doação do Curral da Atalaia à Misericórdia de Marvão, sendo parte da sua demarcação efetuada com uma anta à qual se uniam duas paredes. Acrescentava o documento que um dos muros ladeava o caminho que conduzia ao Porto de Santa Maria. Pela descrição parece não haver dúvidas de que a anta a que se referia este manuscrito é a do Curral do Matinho. Não deixa de ser interessante salientar que na área do Curral da Atalaia, e poucos metros para NO deste monumento, outra anta se conhece, embora dela o documento nada diga.
Num outro manuscrito que também já não consta do atual inventário do Arquivo da Misericórdia, datado de 1780 e bastante truncado, referia-se, expressamente, a Anta do Vale da Figueira, pela qual se partia uma propriedade, provavelmente doada à Misericórdia de Marvão. Esta anta encontra-se hoje incorporada numa parede de divisão de propriedade, sendo um dos poucos monumentos do concelho de Marvão que ainda conserva a cobertura da câmara na sua posição original.
No ano de 1924, Possidónio M. Laranjo Coelho, faz publicar em Coimbra os primeiros capítulos da importante monografia, Terras de Odiana na qual faz referência às antas do concelho de Marvão. Regista as antas do Matinho, Vale de Figueira, Meirinha, Cruz da Ginja, Canto das Torres ou da Cavalinha e Mouta Rasa. Para além destes monumentos Laranjo Coelho descreve as escavações efetuadas por Pedro Pena nas Lapas de Abrigo de Vidais, nas imediações do Rio Sever. A Pedro Pena também se ficaram a dever escavações, nas câmaras das Antas da Tapada do Castelo, Laje dos Frades, Enxeira dos Vidais e Granja.
Entre 1946 e 1947, Manuel Afonso do Paço, a convite do Presidente da Câmara Municipal de Marvão, desloca-se por diversas vezes a este concelho, tendo publicado os resultados das suas prospecções em dois trabalhos, apresentados, respetivamente, em 1949 no XVI Congrés Internacional de Geographie, e em 1950 no XIII Congresso da Associação Portuguesa para o Progresso das Ciências.
A Carta Arqueológica do Concelho de Marvão constitui o primeiro levantamento arqueológico sistemático de um dos concelhos incluídos na bacia do Sever. Neste levantamento Afonso do Paço descreve e localiza vinte e uma sepulturas megalíticas e apresenta fotografias de doze.
Afonso do Paço, na Carta Arqueológica não refere que tivesse procedido a escavações em qualquer dos monumentos descritos. Contudo, sabemos, por informação oral de um lavrador que o acompanhou nas visitas a este concelho, que a Anta da Meirinha, a da Cavalinha e a do Jardim foram sondadas, ainda que superficialmente.
Após o trabalho de campo de Afonso do Paço (1946/47/48) até ao inventário de Georg e Vera Leisner (1959) várias referências se conhecem a monumentos megalíticos desta região, sem que, contudo, novos e significativos dados sejam divulgados.
Será com a divulgação dos diversos estudos sobre as sepulturas megalíticas da Península Ibérica, da autoria de Georg e Vera Leisner (Leisner, 1956, 59, 65), mas sobretudo com a publicação dos volumes que compreendem o Alentejo, que uma visão de conjunto foi possível estabelecer para esta região. O grande corpus que resulta do exaustivo levantamento empreendido pelo casal alemão marca uma nova época no estudo da Pré-História peninsular. As largas centenas de monumentos que são localizados, descritos, desenhados e alguns fotografados, bem como a divulgação de espólios recolhidos, possibilitaram ao casal Leisner estabelecer as primeiras leituras coerentes desta complexa manifestação cultural, ao mesmo tempo que escreviam as primeiras sínteses baseadas em dados verdadeiramente científicos.
Em 1973 organizámos o Grupo de Arqueologia de Santo António das Areias que tinha como objetivo primeiro atualizar a Carta Arqueológica iniciada por Afonso do Paço e proceder à recolha de espólio arqueológico disperso pelo concelho de Marvão. Como consequência direta da ação desse grupo foi possível pôr termo a uma campanha de escavações desenvolvidas por populares em monumentos megalíticos da área de Vidais que se propunham encontrar o tesouro que Pedro Pena nunca encontrara. Dessas caça ao tesouro resultaram, ainda, a destruição da Anta da Tapada do Castelo, escavação do corredor da Anta da Granja e a total limpeza da câmara e parte do corredor da Anta da Laje dos Frades. Uma ínfima parte do espólio exumado foi recolhido para o já extinto Museu de Santo António das Areias, encontrando-se atualmente exposto no Museu Municipal de Marvão. No seguimento das prospeções efetuadas apresentámos no IV Congresso Nacional de Arqueologia (1980), em colaboração com Ana Carvalho Dias, uma comunicação com o inventário e estado de conservação das vinte e quatro sepulturas existentes no Concelho de Marvão. À lista já divulgada, quer por Afonso do Paço, quer por Georg e Vera Leisner, acrescentámos mais três monumentos inéditos: Bola da Cera, Pombais e Sapateira Pequena. Ao texto desta comunicação, entretanto reformulado, anexou-se o estudo de parte do espólio recolhido em 1973 na Anta da Tapada do Castelo, vindo a dar origem ao pequeno livro Monumentos Megalíticos do Concelho de Marvão, publicado em 1981.
Entre 1982 e 1995, no âmbito de um projeto de investigação procedemos ao inventário e estudo das manifestações megalíticas da bacia Hidrográfica do rio Sever. No decurso desse projeto procedeu-se à escavação e estudo de pormenor dos seguintes sepulcros megalíticos situados na área do concelho de Marvão: Pombais, Bola da Cera, Castelhanas, Cabeçuda e Figueira Branca. Ainda no âmbito desse projeto procedemos, igualmente, à escavação da área envolvente do Menir da Água da Cuba, também situado neste concelho. Para além destas escavações realizaram-se novas campanhas de prospeção que possibilitaram a identificação do Menir dos Pombais e o do Corregedor.