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A fauna que se pode encontrar na área geográfica do concelho de Marvão, apresenta alguns aspectos peculiares bastante interessantes. A “ilha” que esta região montanhosa representa, reflecte-se na presença de isolados populacionais de duas espécies de anfíbios, o Sapo parteiro e a Rã ibérica, ambos presentes nos cursos de água que descem do maciço montanhoso de Marvão, indo juntar-se às águas do Sever.
Igualmente presente nestes pequenos ribeiros, pode observar-se uma das espécies de répteis mais espectaculares da nossa fauna. Trata-se do Lagarto de água, endémico da Península Ibérica, cuja população de São Mamede se encontra também isolada das do Norte do país, onde a espécie é mais comum.
Marvão é conhecida como a vila onde se vêem as águias pelas costas. No entanto, a sua peculiaridade avifaunística não é hoje tanto representada por estas rapinas mas sim pelo Chasco-preto, passeriforme rupícola raro e de distribuição muito localizada no Sul do país.
No que diz respeito aos mamíferos, para além de espécies com larga distribuição em toda a Serra de São Mamede, como são os casos da Geneta, do Javali e do Texugo, só para citar alguns, também pode ser observada a Lontra, particularmente nas orlas dos cursos de água mais abrigados. Menos comum, mas também presente na encosta de Marvão, está a Fuinha que raramente se deixa observar. Mas o interesse mamofaunístico de Marvão advém sobretudo da presença do Rato-de-cabrera, interessante endemismo ibérico com o estatuto de raro no nosso país e das nada menos que treze espécies de morcegos, nove das quais em perigo de extinção em Portugal, que utilizam Marvão e zonas circundantes como território de alimentação.
A vila de Marvão localiza-se sobre uma crista quartzítica ( a maior e mais alta crista quartzítica a sul do Tejo ). As cristas quartzíticas possuem algumas particularidades ornitológicas, que poucos se apercebem, mas que pela sua importância aqui deixamos este pequeno apontamento.
Na crista quartzítica de Marvão nidifica uma das aves mais raras de Portugal, o Chasco-Preto, Oenanthe leucura. Podemos contemplar o seu voo entrecortado, de plumagem negra, com parte da cauda branca, de porte um pouco menor a um melro. É muito fácil a sua observação na vila de Marvão, a partir das muralhas, quer na vertente oeste quer na norte. Em voos constantes, em cantos agudos e entrecortados, esta ave possui como uma das suas características peculiares o ciclo reprodutivo, já que o macho não se poupa a esforços para transportar pedras para o ninho. É uma tarefa que tem lugar antes da postura dos ovos, mas após o acasalamento, pelo que se põe de lado a hipótese de tal actividade ser um ritual de acasalamento. É possível que originalmente a função das pedras fosse essencialmente de suporte à estrutura do ninho ou para o proteger das condições meteorológicas adversas. No entanto, a quantidade de pedras acumuladas no ninho é um exagero, assim como o esforço energético que o macho investe nos intensos períopdos de transporte (até 82 pedras em meia hora); as pedras são transportadas no bico, em voo, a distâncias de alguns metros mas com uma forte componente de ascensão até ao ninho.
Têm-se observado em várias espécies animais, o desenvolvimento de actividades e comportamentos, à primeira vista excêntricos, mas que cumprem uma importante função no ciclo reprodutor. Estes atributos fornecem informações sobre o estado físico dos indivíduos e/ou sobre a sua capacidade para cuidar das crias. No caso do Chasco-Preto, observa-se que as fêmeas investem mais na reprodução se o seu par mostrar vigor físico, características genética favorável a transmitir à descendência. Verifica-se também que tais esforços podem informar a fêmea sobre a capacidade do seu companheiro de posteriormente cuidar das crias, quantas mais pedras conseguir carregar, mais alimento poderá, posteriormente, transportar para o ninho.
Esta ave distribui-se pela Península Ibérica, é uma espécie sedentária, que nidifica em zonas áridas e rochosas de clima mediterrânico, condições favoráveis que consegue encontrar aqui em Marvão. Em atenção à raridade da espécie, todas as actividades humanas que possam-lhe causar incómodo devem ser acauteladas e ponderada a sua utilidade. Jóia do Alentejo, Marvão, possui para além do seu património, uma ave bela e rara, estando protegida, quer pela Lei da Caça, Convenção de Berna e Directiva das Aves.
Luís Marques