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Figuras Ilustres de Marvão agraciadas com Medalha de Mérito Municipal (Ouro ou Prata)
José Xavier Mouzinho da Silveira nasceu em Castelo de Vide a 12 de Agosto de 1780. Filho de Francisco Xavier de Gonide, médico e de D. Domingas Angélica Mouzinho era a caricatura do típico burguês latifundiário.
Logo desde cedo (16 anos) Mouzinho partiu para Coimbra onde estudou os preparatórios necessários para se poder matricular na Faculdade de Direito. Uma vez formado regressou a Castelo de Vide. Em 1802 tomou o cargo de jurista e um dos seus primeiros trabalhos foi assegurar a sua avantajada herança, a Herdade da Silveira (entre outros bens) deixada por seu pai ao morrer.
Além da sua ocupação como jurista e também “empresário” agrícola atingiu mais tarde a carreira da magistratura judicial.
Mouzinho recebe a sua primeira nomeação como Juiz de Fora da Vila de Marvão em 1809, ano em que se deram as 2ªs invasões francesas, tendo como autoridade que tomar as providências necessárias à defesa da sua praça e da região vizinha.
Em 1813 foi transferido para Setúbal mas regressa em 1817 para Alto Alentejo, para Portalegre, como Provedor da Comarca, e é aí que recebe a notícia que tinha rebentado no Porto a 24 de Agosto de 1820 a primeira revolução liberal.
Com a morte de D. João VI (1826) e a instauração da Carta Constitucional que Mouzinho apoiava fervorosamente, este passa a ter assento na Câmara Legislativa como deputado pelo Alentejo. D. Miguel, o então regente, jura esta mesma Carta mas acaba por renegá-la em 1828 quando chega ao País e os constitucionais, mesmo conservadores como Mouzinho, são obrigados a emigrar. Em Paris, com a família, Mouzinho tem tempo para se dedicar ao estudo das estruturas económicas, política e social portuguesas, estruturas estas que teria oportunidade de mudar mais tarde com a sua importante passagem pelo governo.
Mouzinho só viria a abandonar Paris quando em Julho de 1831 é chamado por D. Pedro para embarcar para os Açores (onde chega em Fev. de 1832) a fim de integrar a sua equipa governativa.
É então aqui que vai desenvolver a sua obra reformadora, enquanto ministro da Fazenda e da Justiça. Almeida Garrett, a seu respeito escreveu mais tarde:
“Mouzinho que inteiramente se tinha apoderado do animo de D. Pedro, aproveitou esta situação única, certamente única, e é preciso, para se ser justo e poder avaliar directamente as coisa, não esquecer a circunstância – aproveitou, digo, aquela ocasião certamente única, para fazer aceitar e converter em leis as suas reformas radicias tremendas.
Almeida Garrett in Dicionário da História de Portugal
Ao todo, a obra legislativa de Mouzinho consistiu em 22 decretos promulgados oficialmente nos Açores e mais sete no Porto onde chegou com a restante comitiva e exército em finais de Julho de 1832.
Nasceu em Lisboa, na freguesia dos Anjos, no dia 12 de Março de 1894.
Frequentou a Faculdade de Medicina de Lisboa, onde se licenciou a 27 de Novembro de 1920, com a média de 18 valores. Nesta universidade, teve como contemporâneos alguns dos mais ilustres mestres no campo da Medicina como o Doutor Fernando da Fonseca e o Doutor Mário Carmona, entre outros. Foi orientado no estágio pelo Doutor Salazar de Souza, grande mestre e sábio.
Exerceu, por um curto período de tempo, no Hospital de Santa Marta, em Lisboa.
Em 1922, respondeu a um anúncio de jornal e a 25 de Março desse ano chegou a Marvão, local que desconhecia, para fazer o que deveria ser um pequeno estágio, usufruindo do vencimento anual de cinco mil e quatrocentos escudos. Ainda no decorrer do mesmo ano é nomeado subdelegado de saúde.
Em 1928, a Câmara Municipal emitiu o seguinte parecer á sua conduta:
“O Doutor José Martins Gralha, durante o tempo em que interinamente tem desempenhado o lugar de Facultativo Municipal deste Concelho, isto é, desde 1922 até hoje, fê-lo de forma tal que captou a simpatia da população do Concelho, mostrando no desempenho do referido lugar muitos e vastos conhecimentos profissionais, aliados a um trato claro e amável para com os doentes a seu cargo”.
Torna-se, assim, Médico Municipal efectivo em 1928.
Contraiu matrimónio com Maria José Carrilho, com quem teve 4 filhos: Manuel Vitorino Gralha, Fernando Carrilho Gralha, Abel Carrilho Gralha e José Carrilho Martins Gralha.
Durante mais de quarenta anos exerceu medicina neste Concelho, tendo demonstrado ser uma pessoa de excelentes qualidades de carácter e extrema generosidade. Homem inteligente, virtuoso e com grande capacidade de trabalho, ganhou a simpatia, a amizade e a veneração de todos os Marvanenses e não Marvanenses.
A pé, de burro ou de carroça, a toda a hora do dia e da noite, fizesse sol ou chuva, percorria o Concelho de Marvão e, ainda, noutros concelhos limítrofes, sentindo ser seu dever ajudar os menos favorecidos a quem, além dos seus serviços, distribuía medicamentos e, por vezes, ajudava economicamente.
A Casa do Povo de Marvão passa a ter a sua colaboração em 1943. O seu retrato, a título de homenagem, permaneceu pendurado na parede do posto médico desta instituição, por cima da secretária.
Prestou, igualmente, durante longos anos, serviços no Hospital da Santa Casa da Misericórdia.
Numa época de carências quase totais, a Santa Casa da Misericórdia não se dissolveu porque o Doutor Gralha enquanto Médico e Cidadão lhe deu o maior apoio, tendo mesmo realizado por sua conta muitas obras de Misericórdia.
Foi homenageado, em vida, pelos 25 anos de medicina exercida de uma forma altruísta generosa e abnegada, no Concelho. Assim, recebeu a condecoração da Ordem de Benemerência, com o grau de Comendador, atribuída pela Presidência da República.
A Liga dos Filhos e Amigos de Marvão prestou-lhe, também, homenagem na Casa do Alentejo, em Lisboa, a 15 de Maio de 1963.
Viveu e morreu pobre, sempre apaixonado e dedicado à sua missão, pois raramente recebia qualquer remuneração pelos seus serviços. Não fora o salário que recebia como Médico Municipal, e que ainda dividia com quem mais necessitava, teria ficado na miséria.
Faleceu a 25 de Agosto de 1964, em Marvão.
Na reunião ordinária da Câmara Municipal realizada em 27 de Agosto de 1964, dois dias após a sua morte, o Executivo manifestou-se da seguinte forma:
“Voto de Pesar – O senhor Presidente informou a Câmara do falecimento do Senhor Doutor José Martins Gralha, ocorrido na madrugada do dia vinte e cinco do corrente mês. Depois de lamentar a morte daquele que durante mais de três dezenas de anos fora sempre distinto médico municipal e subdelegado de saúde deste concelho, grande amigo dos pobres, a quem, além dos seus serviços clínicos, oferecia e distribuía os respectivos medicamentos, daquele que não sendo natural do concelho de Marvão, aqui se radicou, aqui dedicou toda a sua vida profissional nesta obra de bom fazer e que a todos deixou saudades, pois que foi, além de mais, um homem honesto, de carácter íntegro, chefe de família exemplar e dedicado defensor dos interesses de Marvão, o Senhor Presidente propôs que ficasse exarado em acta um voto de pesar, o qual foi aprovado por unanimidade. O Senhor Presidente comunicou ainda que o Município se tinha feito representar com o seu estandarte e edilidade, em todos os actos fúnebres e que, como última homenagem, tinha sido oferecida uma coroa de flores.”
A título póstumo, e por decisão do Município de Marvão, foi dado o seu nome ao Largo onde se situa a sua Casa de Família e o consultório onde, durante anos, viveu e exerceu a sua profissão de forma tão isenta, digna e nobre.
(Compilado e elaborado a pedido de João Fernando de Maia Lamarão Gomes Rosa e da Junta de Freguesia de Santa Maria de Marvão.)
Finalmente chegou o momento de se prestar a título póstumo a justa homenagem ao saudoso Marvanense Jeremias da Conceição Dias.
Certamente que os Marvanenses não têm dúvidas de que esta homenagem só peca por tardia. É muito difícil falar dos atributos que ohomenageado era dotado, as suas qualidades humanísticas sobressaiam de todas as outras , a pobreza era a sua maior preocupação, a sua casa estava sempre aberta para auxiliar os que precisavam. Era um homem com conhecimentos privilegiados, dos quais tirava algumas vantagens para o Concelho em geral e Marvão em especial:
Assim foi possível:
A construção da Piscina Pluvial da Portagem;
A construção da Estrada Nacional nº359, da Portagem ao limite Norte do Concelho;
A Restauração das muralhas da cidadela;
A Pousada de Santa Maria;
A recuperação dos sinos das Igrejas da vila, entre outros;
O Senhor Jeremias da Conceição Dias, era um homem com ideias muito próprias, não gostava de ser contrariado, não era fácil aceitar a derrota, como ele gostava de dizer “não recuo nem um milímetro”
Resta-me agradecer à edilidade pela homenagem prestada a este ilustre e Grande Marvanense, Jeremias da Conceição Dias, aos familiares aqui presentes os quais saúdo e exorto a ter orgulho do Homem que foi o senhor Jeremias. Com um muito obrigado aos Marvanenses que se designaram a assistir a esta homenagem.
Marvão, 08 de Setembro de 2010, Joaquim Diogo Simão
Quando me desloquei à sua casa para fazer esta recolha biográfica encontrei-o algo abatido e apreensivo mas bastou o convite para revisitar a sua vida para lhe iluminar o rosto e encher o olhar de memórias. Transfigurou-se em segundos e parecia outra pessoa, alegre e faladora que se divertia e recriava com os episódios passados.
João Francisco Rosado Nunes Vidal, nasceu a 28 de Fevereiro de 1940, há 69 anos, no Jardim, freguesia de São Salvador da Aramenha. É filho de Manuel Nunes Vidal, canastreiro de profissão, e de Catarina Rosado Tapadinhas, doméstica. Deles herdou a veia artística que já antes se tinha manifestado na família nas figuras do avô paterno e da avó materna, ambos tocadores de harmónica. O pai era acordeonista e a mãe, uma cantadeira famosa. Juntos formaram uma dupla de sucesso que animou os bailes no concelho e na região. Com eles aprendeu a habituar-se às festas, a crescer entre as palmas, a conhecer o poder libertador da dança. Dormiu muitas vezes junto ao palco, enrolado num xaile. Por vezes acordava quando a bailação estava rija e dançava também. Conheceu muita gente, muitos sítios. Tornou-se popular.
Frequentou a escola primária da Portagem, onde hoje funciona a Sociedade Recreativa. Aos 12 anos partiu para a cidade e ingressou no Curso de Formação Geral de Comércio da Escola Comercial de Portalegre.
Quando terminou, o seu primeiro emprego foi no escritório dos “Cafés Guapa”, situados nos Olhos d’Água, propriedade do Sr. José Maria Pires Cardoso. O negócio ia de vento em popa e só o irrecusável convite para trabalhar no Banco Pinto e Sotto Mayor, o fez rumar a Lisboa. Não podendo estar longe da música e da acção, entrou para o coral da Casa do Alentejo que ajudou entretanto a reorganizar.
Anos depois surgiu a oportunidade de regressar e voltou a Portalegre, para a sucursal deste banco na cidade, perto do Café Alentejano, onde desempenhou as funções caixa e fazia de tudo um pouco. O Sr. Vivas da Beirã era cliente e ia lá com frequência depositar dinheiro e tratar de negócios. Como era Provedor da Santa Casa de Marvão e conhecia o gosto que Vidal nutria pela música, cultura e etnografia, falou-lhe na possibilidade de fazer um rancho da Misericórdia. Esta instituição tinha então dois asilos para jovens, um para rapazes (no edifício do Espírito Santo ao lado da Casa do Governador) e outro para raparigas que funcionava na própria sede. Neles estavam hospedados cerca de 60 rapazes e 60 raparigas chegados de todo o país e oriundos de famílias pobres. A ideia do rancho surgiu com o intuito de criar mais uma actividade para ocupar os tempos livres daqueles jovens. As intenções foram as melhores mas o resultado foi revolucionário para a época. Permitir que jovens de sexos diferentes se juntassem e passassem horas a ensaiar e a dançar agarrados não era propriamente do agrado das freiras e muito menos da Madre Saturnina que tudo fazia para não os ver juntos.
Vidal aceitou o convite de forma graciosa e passou a deslocar-se de Portalegre propositadamente para os ensaios. Não só não recebia qualquer tipo de pagamento como teve de fazer investimentos do seu próprio bolso. Comprou então um gravador que ainda hoje conserva, caríssimo para a altura, um luxo só ao alcance do ordenado de um bancário. Foi dos primeiros aparelhos que por aqui apareceram e revelou-se uma ferramenta indispensável para o trabalho de recolha de modas que iniciou então por todo o concelho. Os seus interlocutores de mais idade, aqueles que guardavam os saberes mais antigos, assustavam-se com o aparelho “que guardava a voz lá dentro” e muitas vezes teve de levar o gravador escondido. Fazia esquemas num papel com as danças que “não importavam se eram bonitas ou feias. O que importava era se eram autênticas”. As portas abriram-se-lhe com muita facilidade. A popularidade angariada nas digressões artísticas com os pais quando era criança foi-lhe então muito útil. Reuniu um total de 60 modas sendo algumas delas palacianas, aprendidas por pessoas que trabalharam em casas de pessoas abastadas.
Participou também activamente nos cortejos de oferendas que se realizavam sempre no dia 8 de Setembro, nos quais pessoas e instituições de todo o concelho se deslocavam a Marvão de carroça para levarem produtos que ofereciam à Misericórdia. Era uma manifestação muito importante que envolvia muita gente chegada de toda a parte e oferecia um pouco de tudo o que tinha.
Entretanto, a actividade do rancho que se prolongou por cerca de 3 anos, extinguiu-se quando o asilo para jovens terminou e estes se viram obrigados a regressar às suas terras.
Diz o povo que “sempre que se fecha uma porta, se abre uma janela”. O êxito da actividade inédita que desenvolveu no Rancho da Misericórdia granjeou-lhe uma fama que levou a que o convidassem a fundar um rancho na Boavista, em Portalegre. Nesse então, o “bichinho” do folclore já mandava muito na sua vontade e não pensou duas vezes. Encetou então uma intensa actividade de recolha das modas desse concelho, sobretudo nos Fortios, em São Julião e na Urra. Ali não faltavam pares e vontade. Já com fama de referência da etnografia à escala distrital, chegou a ensaiar quatro vezes por semana, as mais de 80 pessoas divididas em 3 escalões etários.
Esta actividade graciosa e mantida unicamente pelo gosto durou cerca de 4 anos, até ao momento em que saiu do banco e deixou Portalegre. Nesse momento, o rancho da Boavista já estava completamente formado, sedimentado e em plena actividade.
Entrou então para a Câmara de Marvão, numa fase em que tinha saído da presidência o Dr. Machado e entrado o Sr. Carita, num período em que os autarcas não era eleitos mas nomeados pelo Governador Civil. Aí fez de tudo. Recorda-se de um livro enorme onde se registavam as receitas e as despesas, cujo preenchimento era uma das suas incumbências.
Entretanto, em Castelo de Vide havia já um rancho mas que era muito fraquinho e funcionava mal. Decidiu dar uma ajuda e acabou por ficar quase por década e meia. Curiosamente, foi este projecto, o único que não começou de raiz, aquele que lhe deu mais trabalho. Desenvolveu uma intensa recolha etnográfica na vila e em Póvoa e Meadas, uma zona muito rica em modas e tradições, sempre acompanhado do seu inseparável gravador.
O Sr. Carita, sabendo-o conhecedor do concelho e das regiões limítrofes como ninguém, aconselhou o Director-Geral de Turismo a colocá-lo no Posto de Turismo da Fronteira de Galegos que tinha então um movimento extraordinário. Ali trabalhou durante cerca de 12 anos, numa área que o motivava imenso e achava muito estimulante.
Do Rancho de Castelo de Vide saiu para fundar o da Casa do Povo de Santo António das Areias, há cerca de 25 anos atrás. Nesta aldeia existia já um rancho que foi começado pelo Sr. Rui Sequeira que terminou. Decidiu deitar mão ao que restava desse grupo e organizou-o de forma diferente porque “o folclore não é só o que se canta e dança mas também o que se traja”. O rancho é da Casa do Povo porque na altura estas instituições tinham dinheiro para apoiar o folclore. É esse o motivo porque há tantos sob essa tutela espalhados por todo o país.
O rancho arrancou logo com muita gente, perto de 100 pessoas, o que permitiu fazer 3 escalões. Os ensaios, duas vezes por semana, começaram no Grupo Desportivo Arenense. Brilham-lhe os olhos ao recordar as gerações e gerações de arenenses que por lá passaram, sempre com ele como ensaiador. Nesses tempos nunca faltaram músicos para a tocata, como acontece agora. Lembrou o Sr. João Carrilho e o Manuel Rafael Carrilho, o Adelino Marmelo, o Barbas, o Vítor Conchinha (que fez a música da Sr.ª da Estrela partindo das quadras recolhidas por ele), o Abílio Baldeiras…
Fala também com orgulho do Festival de Folclore do concelho de Marvão que organizou pela primeira vez no tempo da presidência do Sargento Paz, ainda com um carácter regional.
Quando nasceu a Rádio “Ninho d’Águias”, de Marvão, durante o boom das rádios piratas em Portugal, divulgou o folclore no programa “De lés-a-Lés”, um dos mais apreciados pelos ouvintes.
Durante todo este tempo, nunca descurou o precioso trabalho de recolha. Só modas de saias tem cerca de 200 e ainda hoje conserva todas as cassetes de gravações desde o início (algumas delas certamente já desmagnetizadas), um espólio riquíssimo que convinha recuperar com urgência e preservar.
Ainda antes da abertura das fronteiras, quando as pessoas já paravam muito menos, o Posto foi encerrado. Entrou então para a secretaria da Escola Básica Integrada Dr. Manuel Magro Machado de onde se viria a reformar.
Decidiu abandonar o “seu” rancho há 3 anos por achar que já não havia verdade etnográfica. “O traje para mim é como se fosse um uniforme. Havia uma falta de respeito muito grande e foi melhor afastar-me”, disse, numa decisão solitária e irreversível. A sua esposa e filha continuam ainda hoje a colaborar em permanência. A princípio sofreu imenso com essa saída mas agora diz que “vai vivendo”. A paixão pelo folclore vai sendo alimentada em tardes e serões a ouvir as centenas de gravações que lhe foram oferecidas por ranchos de todo o país ao longo dos anos.
Delegado da Federação do Folclore Português, entidade encarregue de “separar o trigo do joio” apoiou ainda os ranchos de Nisa; de Vale de Maceiras, no concelho de Fronteira; de Gáfete; de Aldeia da Mata…
Graças a este amor de toda a vida conhece e é conhecido em todo o país que percorreu praticamente na íntegra.
A vida de João Nunes Vidal é uma vida dedicada à causa etnográfica. Milhares de quilómetros percorridos, milhares de horas de recolha, milhares de horas de ensaios, milhares de horas de actuações numa existência de autêntica militância que hoje, aqui e agora se homenageiam.
Perguntei-lhe se gostou do gesto, de decisão unânime que foi tomada pela Câmara Municipal de lhe entregar este galardão. Sorriu com ar de menino, arregalou os olhos, levou as mãos ao peito e disse: “Fiquei muito contente. Muito. Gostei muito. Lá estarei. Muito obrigado”.
Muito obrigado dizemos nós, a si, por tudo o que fez. Em nome de Marvão,
Bem haja.
(texto de Pedro Sobreiro)
João Nunes Sequeira, nascido a 17 de Julho de 1895 na povoação e Freguesia de Santo António das Areias, era filho de Júlio Nunes Sequeira e de Henriqueta dos Remédios, que, embora doente, e de poucos recursos, trabalhava como costureira. Foi um tio, barbeiro de profissão, que se ocupou do sobrinho até concluir a 4ª classe. Foi ajudante de pedreiro até ingressar na C.P., acumulando as funções de encarregado do Posto dos C.T.T. Ingressou no serviço militar, onde chegou a sargento enfermeiro no Hospital Militar da Estrela.
Regressando a Santo António, aqui montou um pequeno comércio que rapidamente fez expandir. Em 1930 abre o seu primeiro armazém, em 1931 adquire a Herdade do Pereiro, que chegou a ter cerca de 200 trabalhadores e onde em 1937 instala a 1ª fábrica de pimentão. Instala novas fábricas me Cabeço de Vide, Elvas, Bemposta, Mora e Borba.
Em 1940 desenvolve a comercialização de calçado.
Adquire a Fábrica Real de Portalegre em 1954. Em 1956 abre o Cine Teatro Crisfal.
Em 1959 expande a sua actividade para Angola. O desenvolvimento dos seus negócios continua ao longo dos anos.
Em termos de obra social, ajudou a construir 50 habitações no Bairro da Casa do Povo, a Praça de Touros, a cantina escolar, casa paroquial e cede o terreno para construção do infantário.
Foi durante vários anos vereador da Câmara Municipal de Marvão e fez parte dos órgãos gestores da Casa do Povo de Santo António das Areias.
A Câmara Municipal de Marvão proclamou João Nunes Sequeira cidadão benemérito e benquisto filho de Santo António das Areias. Tem nome de rua na mesma aldeia e um busto erigido pela população. Faleceu em 9 de Janeiro de 1968.
Fontes:
- Boletins da Misericórdia da Santa Casa da Misericórdia de Marvão
- Texto do Boletim Municipal “Da Guarita” sobre o Dr. Machado
- Artigo da Ibn Maruan nº12 “Toponímia do Concelho de Marvão” de Fernando Carita
António de Mattos Magalhães nasceu na aldeia da Escusa, Freguesia de São Salvador da Aramenha. Na sua época, foi das personagens mais influentes do concelho, com acção predominante na sua restauração, em 1898.
Fez a preparação escolar no Seminário e Liceu de Portalegre, concluindo o curso de Direito, em Coimbra, no ano de 1883/1884. Quando da extinção do concelho, António de Matos Magalhães era vereador da Câmara Municipal. Após a sua restauração, foi ele que assumiu a presidência da comissão administrativa e mais tarde a presidência da Câmara, depois das eleições municipais.
António de Matos Magalhães foi portanto o líder dos desígnios marvanenses durante este importante período da nossa história concelhia.
Além da sua actividade como político (durante mais de 20 anos) e agricultor (Quinta do Penedo da Rainha), dedicou muito da sua vida à instrução, mandando construir a suas expensas alguns edifícios escolares (ex. escola da Beirã).
Foi o perseverante e entusiasta impulsionador das termas da Fadagosa – Beirã. Não tendo a Câmara Municipal disponibilidade financeira para custear a exploração das águas, nem verbas para custear as despesas do projecto de reedificação dos referidos banhos, deliberou em sessão de 4 de Outubro de 1885, que estas águas se vendessem em hasta pública, arrematando-as então o Dr. António de Mattos Magalhães.
Faleceu em 15 de Agosto de 1915 e está sepultado no cemitério de Marvão. O seu nome foi dado a várias ruas do concelho (Marvão, Beirã, Escusa)