Festival Internacional de Cinema chegou a mais lugares e públicos
Atualizado em 02/09/2015Atualizado em 02/09/2015
A terceira edição do Festival Internacional de Cinema de Marvão, que decorreu entre os dias 27 e 30 de agosto, chegou a mais lugares e mais públicos, com o intuito de aproximar as zonas rurais da sétima arte, e contou com grande adesão de público e muitas salas cheias.
Marvão, Santo António das Areias, Galegos, Beirã, Portagem e, pela primeira vez, a localidade vizinha de Valencia de Alcántara, foram alguns dos palcos do Festival deste ano.
A sessão oficial de abertura aconteceu na antiga Fronteira de Galegos, com a projeção de “Mulheres da Raia”, de Diana Gonçalves, a despoletar emoções entre os presentes, muitos dos quais experienciaram, embora numa região diferente, uma realidade semelhante àquela que o documentário descreve.
A exposição “La Vieja Sábia”, apresentada na ocasião através de um vídeo com entrevistas a protagonistas locais de histórias de contrabando de outros tempos, forneceu o necessário complemento ao que se viu no documentário. Histórias da raia, a norte e a sul, partilhadas com os seus protagonistas e um público que esgotou todos os lugares disponíveis, naquele que foi o primeiro grande momento do Festival.
Nos dias seguintes, o cinema chegaria a outros espaços, como o Lagar-Museu Melara Picado Nunes, nos Galegos, ou à Trainspot, na estação de caminhos-de-ferro da Beirã, atraindo mais público interessado e permitindo momentos de partilha e convívio.
No primeiro caso, os sons do fado ressoaram no velho lagar dos Galegos, graças à exibição do documentário “FADO CAMANÉ”, de Bruno de Almeida, a que puderam assistir largas dezenas de pessoas, entre locais e visitantes.
Já na Beirã, a longa-metragem documental de Cláudia Alves “Tales on Blindness”, enquadrada por uma exposição de fotografia e uma prova de cozinha goesa, facultaram aos muitos presentes um contacto com a história e a cultura indiana.
Durante estes dois primeiros dias, as manhãs foram dedicadas aos mais novos, com os filmes do “IndieJúnior” a proporcionarem momentos especiais a centenas de crianças da região, em sessões muito participadas.
Por sua vez, na Casa da Cultura de Marvão decorreu o ciclo dedicado a Kim Longinotto, exibindo-se os filmes “Salma”, “Dream Girls” e “Pink Saris”, um conjunto de envolventes e poderosas “Histórias no Feminino” que emocionaram quem as viu e deram origem a momentos de debate. No mesmo espaço, foi exibida a única longa-metragem de ficção agendada para estes dias: o premiado filme “Taxi”, do iraniano Jafar Panahi, Urso de Ouro no Festival de Cinema de Berlim de 2015.
De forma a chegar a todas as franjas da população, o Periferias esteve também com os mais idosos, agendando sessões de cinema nos lares de terceira idade de São Salvador da Aramenha e Santo António das Areias, onde puderam ver-se, respetivamente, “Mulheres da Raia”, de Diana Gonçalves, e “Alentejo, Alentejo”, de Sérgio Tréfaut.
O programa diversificado do Festival contemplou, ainda, momentos muito participados como aqueles que se viveram durante o Sábado Vivo, na Portagem, uma feira de produtores e criadores da região, desta vez imbuída do espírito de cinema.
A ocasião serviu para discutir temáticas ligadas à preservação de sementes tradicionais, podendo ser vistos excertos da obra de Sara Sousa Correia “Seed Act”, ainda em fase de montagem. Sara de Sousa Correia que nos apresentaria in loco, na manhã de domingo, último dia do festival, o seu filme “Hortas di Pobreza”, um documentário com fôlego de grande reportagem sobre uma remota população da Guiné Bissau, onde a produção em regime de monocultura do Caju ameaça os frágeis equilíbrios naturais. A presença da realizadora abriu espaço a uma discussão e troca de ideias sobre o conteúdo do filme.
No derradeiro dia do certame, cruzou-se a fronteira para um primeiro momento de internacionalização do Periferias. No auditório da Casa da Cultura de Valência de Alcântara, foi, oportunamente, apresentado ao público espanhol o filme “Alentejo, Alentejo”, um documento sobre o Cante Alentejano que integrou a candidatura deste a património imaterial da humanidade. A exposição e respetivo vídeo documental “La vieja sábia” foram igualmente exibidos nesta ocasião, onde marcaram presença a diretora do Festival, Paula Duque Giraldo e Alberto Piris, Alcalde de Valencia de Alcántara.
A terceira edição do Festival Internacional de Cinema terminaria na noite de domingo, num ambiente de grande festa, proporcionado pela atuação da Banda Euterpe e Coro CAEP Voices. Cerca de oitenta músicos, entre elementos da banda e do coro, revisitaram alguns dos mais conhecidos temas musicais do cinema comercial, perante um público composto por várias centenas de pessoas, que encheram o anfiteatro da Portagem.
Um fecho com chave de ouro para um evento que, além do âmbito especificamente cinematográfico, pretende firmar-se, de acordo com Paula Duque Giraldo, como “um projeto cultural para esta região raiana, capaz de suscitar sinergias muito positivas entre as populações locais, dos dois lados da fronteira”.