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O chafurdão ou furdão, é um tipo de construção, cuja silhueta em muito se aproxima à da choça, mas cuja estrutura é totalmente divergente.
Não tão abundantes como as choças mas muito mais resistentes, estas enigmáticas edificações marcam indelevelmente a paisagem do concelho de Marvão. Não sendo exclusivas deste concelho, estas construções ocorrem nesta região ao longo de toda a raia.
As mais comuns, de planta circular, apresentam diâmetros que variam entre os 3,50m e os 10m. Uma estrutura exterior cilíndrica, que pode ultrapassar os 3m de altura é sobrepujada por uma cobertura em forma de calote de esfera. Os volumes isoláveis no exterior não se reflectem no interior, onde uma forma mais ou menos cónica é constatável. Esta forma interior resulta duma técnica de construção que recorre a lajes de granito ou xisto que dispostas horizontalmente e arrancando directamente da base vão-se fechando, gradualmente, à medida que se aproxima do topo. À altura máxima, esta estrutura é completada com uma laje móvel que poderá facilitar uma maior renovação do ar. Uma porta, e por vezes uma pequena fresta que sobre ela se abre, são as únicas comunicações com o exterior.
Os vãos que possam existir entre as lajes fundamentais que formam estas espantosas construções são preenchidos por pedras de menor calibre, não havendo vestígios de qualquer tipo de argamassa na sua estrutura.
No exterior, a cobertura é completada por terra batida, desempenhando multiplas funções. Para além de conferir a toda a construção uma maior estabilidade ao preencher pequenos vãos ainda existentes, isola em termos de humidade e temperatura o seu interior.
Nalguns chafurdões podem encontrar-se, no interior, pequenos nichos, abertos na parede.
Raras são as construções deste tipo que não apresentam a porta virada a nascente.
Construídas invariavelmente sobre a rocha, estas edificações não apresentam, portanto, qualquer potência de solo arqueológico. È nesta ausência de solo que reside a indefinição cronológico-cultural que as envolve.
Na verdade, já alguns estudos sobre os chafurdões foram ensaiados, contudo, nenhuma certeza ainda existe, quer quanto à sua função, quer quanto à data da sua construção. Desde sepulturas a casas de habitação, passando por abrigos de animais várias têm sido as opiniões dos investigadores sobre a razão de ser destas edificações.
Se os arqueólogos e demais investigadores não são concordantes quanto à sua função, maiores divergências existem quanto à sua origem. Durante várias décadas foram atribuídas aos Celtas. Mais tarde, com o desenvolvimento das investigações em Micenas, foram conotados com as construções de falsa cúpula do Mediterrâneo e atribuíveis à Pré-História Recente. Outros autores preferem associá-las aos povos invasores provenientes do Norte de África.
Pelo que acima fica dito, não existem, por agora, certezas quanto à data e função dos chafurdões. A sua semelhança em termos arquitectónicos com algumas pocilgas poderá estar na origem do nome com que são conhecidas. Contudo, se se destinavam ao abrigo de animais, como explicar a existência, de cercas, estas seguramente para gado, que se anexam quase invariavelmente a estas construções, bem como compreender os já referidos nichos?
Por outro lado, várias construções destas estão associadas a sepulturas escavadas na rocha, podendo ser contemporâneas. Embora também para estas sepulturas não existam datações seguras, vários autores parecem concordar que remontarão aos inícios da Idade Média, podendo prolongar-se até ao século XI.
Se os chafurdões fossem contemporâneos das sepulturas qual seria a sua função? Para espaço de habitação característico da época, eles são em reduzido número e bastante distintos doutras construções, geralmente muito menos robustas e com uma arquitectura menos cuidada, também contemporâneas das sepulturas escavadas na rocha. Tratar-se- iam de espaços de habitação de alguma elite ou de local destinado a acolher manifestações de caracter religioso? Recordemos que, na sua maioria a porta se encontra virada a nascente e que a fresta que sobre ela geralmente se abre deixa projectar um raio de Sol bastante forte que rasgando a penumbra interna poderia incidir sobre qualquer objecto de culto, realçando os seus efeitos mágicos.
No concelho de Marvão, são conhecidos cerca de dezena e meia destas construções, algumas profundamente transformadas como é a que se localiza nas imediações do Lagar de frades. Este chafurdão, associado a vestígios de um habitat datável da Alta Idade Média, foi, recentemente, revestido de argamassa, servindo actualmente para o resguardo de animais.
Tratando-se de construções bastante robustas elas começam já a mostrar vestígios de degradação. Esta situação acelerou-se, principalmente, com o gradual abandono dos campos a que temos assistido nos últimos anos. O agricultor e o pastor ao servirem-se dos chafurdões para os mais diversos fins contribuíram para a sua manutenção. Recolocando alguma pedra que caía, repondo terra na cobertura, cortando alguns arbustos que por entre a estrutura teimavam em crescer, os chafurdões conseguiram, assim chegar aos nossos dias.
Autor : Jorge de Oliveira